TEATRO: A LUTA CONTRA A REPRESSÃO

AI-5: um prejuízo gigantesco ao Teatro Brasileiro



Artistas de mãos dadas em passeata “Contra a censura pela Cultura”. Da esquerda para a direita: Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara e Norma Benghel.


      Com a tomada do poder pelos militares em 1964, o Teatro Brasileiro entrou, talvez, em um dos seus piores momentos devido à censura e à repressão exercidas pelo regime autoritário da época. A situação piorou depois da promulgação do Ato Institucional Nº 5, em 13 de dezembro de 1968.

      Com a censura terrivelmente agravada, os autores se sentiram amordaçados, com razão, para escreverem e, dessa forma, muitos deixaram de escrever. Durante esse período não surgiam novos autores, já que todos eles sentiam que não poderiam escrever sobre o que quisessem. Assim, o público começou a desaparecer do teatro.

      Grupos como o Ocina, criado pelo diretor Zé Celso, e o Arena, do diretor Augusto Boal, que se preocupavam em fazer um teatro tipicamente brasileiro não conseguiram produzir por conta da forte repressão gerada pelo AI-5, que devastou o teatro nacional que se formava.

      Então, pequenas companhias surgiram nesse período, sem muitos recursos e espaço e nem grandes apelos ao público. A m de escapar da censura, essas companhias encenavam peças clássicas de autores estrangeiros. Mesmo com a repressão alguns espetáculos ainda conseguiram se sobressair. Como ‘O Mambembem’, ‘Hair’, ‘Marat/Sade’, ‘O Rei da Vela’, ‘O Balcão’ e ‘Hoje é dia de Rock’.

      O Opinião era um grupo militante que utilizou-se do teatro para a mobilização e articulação da resistência à ditadura. Ele foi criado no Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE. O grupo foi formado por Ferreira Gullar e Vianinha, que alugaram a sala de teatro do Shopping Center de Copacabana. Nesse teatro improvisado, foi encenado o show Opinião, parecido com o que ocorria no Arena de São Paulo, visando driblar a censura.

      O show Opinião estreou com apresentações de Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão. Essa foi a primeira manifestação pública contra a ditadura e, apesar de não ser algo explícito, todos sabiam disso, pelas brincadeiras, piadas e músicas. Mas tudo era feito de forma discreta, para não correr o risco do teatro ser fechado novamente.

      O Opinião resultou uma experiência nova no teatro musical, porque é uma junção de textos e música, teatro falado com música, com humor, com uma série de coisas. E foi essa ideia, que se mantém até hoje, que inspirou o ‘Liberdade, Liberdade’ escrito por Millôr Fernandes e Flávio Rangel. Logo após foi encenado ‘Se correr o bicho pega, se car o bicho come’, de Vianinha e Gullar. A peça foi escrita de forma que não parecesse um paneto, já que nessa época a ditadura já tinha começado a censurar o teatro, mas sim uma obra literária intocável, dramatúrgica de alto nível. Tanto que ela foi composta em versos rimados e se tornou uma das obras mais importantes do teatro contemporâneo.

      Em julho de 1968, no auge da repressão, o Comando de Caça aos Comunistas invadiram, em São Paulo, o teatro onde estava sendo encenada a peça “Roda Viva”, de Chico Buarque. Atores e atrizes do elenco foram espancados, enquanto cenário e equipamentos eram destruídos. As atrizes foram despidas além de obrigarem Marília Pêra e Rodrigo Santiago, também despidos, a irem para a rua. Em setembro, no Rio Grande do Sul, repete-se a mesma agressão contra o elenco da peça. A censura acaba proibindo o espetáculo. Depois disso, o número de expectadores da classe média no teatro diminui ainda mais. E o governo fazia uma enorme campanha contra o teatro, dizendo que os atores não passavam de pervertidos.

      Com isso, a qualidade dos espetáculos despencou. Foram poucas as peças que conseguiram driblar a censura e trazer alguma coisa nova para o teatro brasileiro.

      Foi a partir de então, 1968, que o Teatro Brasileiro deixou apenas de ser uma forma de entretenimento e passou a ser uma forma de protesto social e político dentro do seu contexto histórico-social. E isso ocorre até hoje.




∞ Estefania Oliveira de Paula

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